Amaroo - a beautiful place

"Wherever you live is your temple if you treat it like one" -- Buddha

Wednesday, August 23

Trip to Southern Border

Start:     Aug 26, '06 06:00a
End:     Aug 28, '06
Location:     Rio Grande do Sul
Getting to Porto Alegre, getting a car and driving down south until Uruguay.

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Wednesday, March 15

It takes two to tango - eu e a Carozza em Buenos Aires

            Mais uma vez deixo a monotonia
curitibana para trás em mais uma “aventura”, mesmo que de curta duração, para
um destino qualquer. Se bem que desta vez, muito bem acompanhado, com minha
amiga virtual Carozza “na garupa” para esta sua primeira viagem internacional,
e também minha primeira viagem inteiramente sul americana.




            A desculpa para a viagem era o show
do Oasis, a ser realizado em Buenos Aires, em um campo de pólo. Mas acabou
sendo muito mais do que isso, claro.





             Preparadíssima, a Carozza comprou o
guia “Buenos Aires para brasileiros”. Como já devo ter escrito outras vezes,
sou alérgico a guias de viagem, mas tenho que admitir que este quebrou um galho
enorme. Nos três dias lá, visitamos todos os bairros “importantes” e, na melhor
tradição das minhas viagens, andamos MUITO, e acabamos caindo em uma ou duas
ciladas que fizeram a gente gastar um pouco mais do que devíamos (uma delas
culpa da Carozza, já fiquem avisados).





            Enfim, para a viagem.







            A Carozza chegou umas 4 horas antes,
porque seu vôo ia direto de São Paulo. O meu, de Curitiba, parou em Assunção,
onde eu previa uma noite de aventuras à la “Os Matadores”, mas acabei sendo
tocado para a sala de espera do aeroporto e lendo “Cem dias entre céu e mar”
até a conexão chegar.     



            Encontrei-a tiritando de frio na
saída do aeroporto, mas mesmo assim animadíssima. E essa seria um comportamento
recorrente dela pelo final de semana inteiro, me deixando com uma percepção
diferente sobre gurias viajando graciosamente.







            A instrução para chegar no hostel
era fácil demais para ser verdade. Só pegar o ônibus 51 e parar praticamente do
lado, andando “2 quadras” até lá. Esperamos o bendito e nada de ele abrir a
porta, mesmo com eu correndo atrás dele a partir do ponto, para gargalhada
geral dos nativos esperando outros ônibus. Mas um deles se compadeceu e, já
abandonando qualquer esperança de falar espanhol corretamente, me aventurei no
portunhol pedindo informações, e recebendo muito mais do que esperava. O Christian,
que limpava o chão do aeroporto no turno da noite, nos acompanhou pelo ônibus e
pelo trem, explicando muito mais do que era preciso tudo que devíamos fazer, e
dando algumas dicas de segurança e locomoção pela capital portenha. Mais uma
vez, minha sorte em viagens serviu pra alguma coisa. Marcamos de nos encontrar
de novo no retorno, já que nosso vôo já seria no turno dele no domingo. 



            Demoramos uma hora e pouco, quase
duas, pra chegar no centro de Buenos Aires, e foi fácil encontrar o hostel, depois
de seguir umas duas quadras na direção errada. A sujeira já se fazia notar
desde o transporte coletivo. Mas era de se esperar mesmo. Como se São Paulo
fosse uma beleza de limpeza. Mas eu sou curitibano (adotado), e notei o
contraste um pouco mais. Mas a Carozza foi mais vocal neste aspecto.







            O hostel parecia bem bacana a
princípio. Decidi falar em inglês mesmo, o que deve ter deixado os portenhos
meio putos, porque o tratamento foi muito ruim durante todo o tempo lá.
Comparado com outros hostels que passei, foi melhor que alguns, mas pior do que
muitos outros. 



            Assim que entramos no quarto,
começamos a devorar os poucos folhetos à disposição no lugar, e confiamos mais
no guia para a programação do dia. Para não ficar pesado demais, decidimos
dormir um bocadinho, pois ambos vinham de noites mal dormidas em terminais.

            A idéia era visitar o onipresente obelisco,
cartão postal de Buenos Aires. Já o tínhamos avistado ao longe no caminho para
o hostel, e decidimos começar dali. Mas, na melhor tradição de viajantes
independentes, decidimos fazer um desvio para trocar umas moedas em um banco, e
a partir daí seguimos por uma série de ruas e ruelas que nos brindavam com
belíssimas construções, que iam do colonial ao moderno, passando pelo clássico
e o art noveau (como se eu soubesse do que estou falando... só sei que era
assim).

            Uma das surpresas foi a descoberta
logo de cara do símbolo da Guinness na frente de um pub cubano chamado Rey
Castro. Não houve dúvida, e nem voto contrário, quanto a entrarmos no lugar,
onde acabamos enfeitiçados pelo ambiente e satisfeitos com o almoço de lá e uma
Guinness (de garrafa) cada um.

            Continuamos as andanças e chegamos à
outra de uma série de “avenidonas” que iríamos percorrer nestes dias. Esta dava
uma visão ótima do obelisco, da Casa Rosada, da catedral... afinal, todos os
pontos “importantes” da parte de Buenos Aires chamada “Capital Federal”.

            (Vale observar que todas as
bandeiras do país estavam a meio pau, e o mistério continuou até o fim da
viagem, e não consegui saber de ninguém o motivo daquilo. Luto nacional, claro,
mas por quem?)







            A Casa Rosada estava cercada por cercas
temporárias, como se prevenindo um golpe. Vai entender estes latinos... no
Chile era a mesma coisa. E eu, desligado, dei duas topadas em suas bases. Eu
estava só de chinelo, então dá pra imaginar a dor. 



            Mas dor mesmo foi a da Carozza, que
atrás da Casa Rosada ficou com inveja de mim e deu uma topada “com gosto” em um
dos ferros, e com o dedinho ainda. Só que, contra minhas expectativas, quem ficou
mais preocupado com isso fui eu e não ela. Ela continuou andando, às vezes
mancando, por mais 2 dias e meio. Incrível esta garota!

            No caminho para uma reserva
ecológica que acabamos não visitando, recebemos o primeiro dos vários “xingões”
argentinos, quando entramos no ministério da Defesa e fomos tocados por um
militar.

            Ao invés da reserva, acabamos em
Porto Madero, apreciando a visão dos diques e dos prédios “fashion” ao redor.
Parecia muito com o Darling Harbour em Sydney... que saudade.

            Visitamos um navio-museu estacionado
no dique, e voltamos para a cidade. Lá descobrimos a Rua Florida pela primeira
vez. O equivalente da XV de Novembro de Curitiba, mas com preços extremamente
atraentes. Lá parei pra pegar os ingressos do show, e a Carozza parou pra
comprar uma blusinha... Afinal, ela é mulher.

            Ingresso na mão e mais uns CDs
comprados, voltamos de táxi para o hostel, porque a situação do pé da minha
companheira estava ficando cada vez pior. Tentei convencer ela a se dopar com
paracetamol (que já me salvou de vários enroscos “na estrada”), mas ela,
sabiamente, rejeitou tomar remédios comprados em um país estranho. Em
retrospecto, ela estava certa, e eu errado, na situação do paracetamol. Mas ao
menos uma água oxigenada ela devia ter usado. Nunca ouvi de ninguém morrer por
intoxicação de água oxigenada via cutânea antes.

Nos preparamos para o show, e tentamos
descansar um pouco. Depois de tentar um “remendo” no dedinho (agora arroxeado),
a Carozza foi sem proteção alguma para ficar em pé por pelo menos duas horas.

Chegamos no campo de pólo, e eu com os nervos
absolutamente à flor da pele, com medo de alguém macetar ainda mais o dedinho
dela. Ainda mais no empurra-empurra (light) da entrada do show.

O show começou praticamente sem atraso, e o campo
estava quase cheio, mesmo com os ingressos tendo esgotado alguns dias antes. O
vento era forte e frio, o que dispersou um pouco do som. Fora esta
tecnicalidade, o show foi alucinante, mesmo visto de uma distância respeitosa e
um pouco menos perigosa para a integridade física da minha amiga.

O Liam continua um ótimo vocalista, mas eu não
consigo deixar de lado as músicas do Noel, inclusive a nova “The Importance of
Being Idle” (“I can’t make a living if my heart’s not in it...”). Os portenhos
estavam tão animados que na segunda música a organização pediu para a galera
maneirar um pouco. Depois disso, o show correu sem problemas, com os
indecifráveis diálogos dos irmãos Gallagher entre as músicas, e uma dedicatória
“for all the ladies” de “Wonderwall”, que foi, é claro, cantada em coro (mas
menos que “Don’t Look Back in Anger”, talvez uma favorita dos argentinos).
Fecharam
o bis com um cover the “My Generation” do The Who. Simplesmente perfeito. E foi um show do qual
saí sem estar suado, porque nem “agitei” muito. Estava zen depois de um dia de
caminhada pela cidade. Achar caminhos durante um dia inteiro faz a gente
pensar.

Do show direto para o hostel, sem “esticar”
noite adentro. Estávamos os dois cansados por causa da noite mal dormida, e era
melhor prevenir do que passar os próximos 2 dias se arrependendo.

---

            O sábado começou sem o céu azul do
dia anterior, mas isso não nos impediu de fazer muitas andanças e descobertas.

            Começamos com um café da manhã em
uma pizzaria na “Broadway portenha”, uma rua cheia de teatros, logo ao lado do
obelisco, que finalmente visitamos após o desjejum, acompanhado pelo
tradicional “submarino” (leite quente com uma barra de chocolate afundada).

            De lá para a rua Florida novamente,
para uma manhã de compras. Claro que idéia da Carozza, mas como eu sou muito
gente boa, acompanhei-a por todos os andares das lojas de departamento, até
dando umas opiniões sobre moda (dentre elas: “verde é legal”). Calculadora do
celular na mão, a Carozza ia de cabide a cabide não acreditando na sorte que
ela tinha de estar envolta em pechinchas imperdíveis como aquelas! Eu também
acabei comprando uma blusa, mas por motivos inteiramente práticos: estava frio,
e eu precisava de uma blusa. “Me man...
me hunt!
”. Almoçamos no Burger King lá pela Florida mesmo. Tem vários
Burger Kings por lá. E ele tem sanduba com uns filés dentro e tal.

            Depois das aquisições lindíssimas da
Carozza (sério mesmo, o segundo casaco que ela comprou é mucho cool), andamos até a praça San Martín, e decidimos voltar pro
hostel para “descarregar” antes de seguir para os próximos destinos. Ledo
engano. Ao parar para fotos em uma estátua perto da estação do metrô, outro
argentino prestativo nos apontou a Torre dos Ingleses, onde tinha um mirante. E
lá fomos nós. Mirante e mais umas fotos. Daí... casa... quer dizer, hostel.





            Devidamente descarregados e
confiantes no nosso conhecimento do metrô, fizemos conexões até chegar ao
bairro de Palermo, onde ficavam vários parques, entre eles o zoológico e o
jardim botânico. Pulamos o primeiro e visitamos o segundo, que é praticamente
um “gatil”, de tantos gatos abandonados que estavam largados por lá. A Carozza
simplesmente delirava ao ver cada um das dezenas de gatunos espalhados pelo
parque. I’m more of a dog person
myself...





             De lá nos perdemos por um tempinho
até achar o museu da Evita, que nos custou 5 pesos a mais do que o guia dizia,
e me rendeu mais um xingão, desta vez por eu tirar fotos ilegalmente dentro do
“museu”. Aí estão 10 pesos jogados fora. Mas tudo vale a pena, e pude tirar uma
ou outra dúvida sobre a vida da moça que a Argentina tanto ama.







           Voltamos à avenidona principal. E
bota avenidona nisso. Passamos quase uma hora andando, com a Carozza voltando a
mancar, enquanto prosseguíamos, parque após parque, em direção ao Rio da Prata.
Acabaram-se os parques e continuamos seguindo por uma vizinhança não muito
acolhedora, com danceterias obscuras debaixo de pontes ferroviárias e um
aeroporto de cargas... parecia que nunca iríamos chegar, mas chegamos... e
fomos bem recebidos com um pôr-do-sol entre nuvens às margens do Rio da Prata.
Maravilha! 



            Táxi de volta para o centro, e de lá
de metrô pro hostel. Tínhamos que nos preparar para outro show que a cidade
estava preparando para nós: tango!







            Viajantes economicamente conscientes
como nós éramos, escolhemos um com um custo razoável, ali pelo bairro de San
Telmo mesmo, conhecido pelos seus tangos.  



Chegamos no “Bar Sur” para dar de cara com a
porta. Tínhamos que esperar mais uma hora e pouco até podermos entrar. A partir
daí a Carozza estava com um humor nebuloso, e tinha medo que ela iria arrancar
minha cabeça a qualquer momento enquanto eu tentava aliviar a dor que ela
sentia (o dedo agora tinha adquirido uma tonalidade mais avermelhada, ainda
inchado). Passamos por outra parte de Porto Madero, e aguardamos no Museu da
Cerveja o horário marcado depois de nova tentativa. Fomos surpreendidos ali por
uma performance inesperada de tangos, com duas canções e algumas declamações de
velhos “tanguistas”.







Para sorte do leão de chácara do bar, desta vez
pudemos entrar. Se ele falasse “não ainda”, eu tinha medo que a Carozza fosse
jogar o cara no primeiro dique, à uns 500 metros dali, com um chute. 



O ambiente era bem íntimo, nada de espetáculo.
Para termos de comparação, o lugar tinha o tamanho do... Korova. Um pouco
menor. O show foi uma seqüência de músicas instrumentais, cantadas, danças e
algumas conversas com as mesas. Tinha gente de todo lugar do mundo por ali:
EUA, Austrália, Japão e nós, Brasil. O que nos rendeu uma música do Lupicínio
Rodrigues. Já animado pela “michelada” que tomei no museu da cerveja e da
“ginebra” (gin de pobre), pedi uma champagne. Aí sim a noite entrou em warp speed! (que metáfora nerd). Muito
estiloso tomar champagne e ver tango até as 2 da manhã. Até uns docinhos e um
alfajor rolaram durante as apresentações, além de, é claro, diversas fotos
tiradas pela Carozza.







À todo vapor, queria porque queria emendar em
todos os pubs dali até o hostel (acho que baixou o espírito do Almir em mim, e
o do Doug na Carozza), mas só consegui uma Stella Artois em um pub simpático
que marquei como “must see” na nossa ida para o bar de tango. Bom o suficiente.
Nem lembro direito como chegamos no hostel, mas segundo a Carozza ficamos
conversando até eu dormir de uma hora pra outra. 



---







            Já tarde na manhã de domingo, fui acordado
pela Carozza. Nada de ressaca muito má, mas o suficiente pra me deixar meio
perdido ao acordar. Depois de um pré-café no hostel e um roubo em atacado dos
doces de leite, rumamos para o mercado de San Telmo, sua feirinha e de lá para
o bairro do Boca, o que rendeu uma boa caminhada pra cima e para baixo nas ruas
da vizinhança.  



            Essa boa caminhada quase gerou a
primeira briga com minha companheira de viagem, por causa da dor e do cansaço,
que nem alguns “momentos paracetamol” (nome que demos às paradas para descanso)
podiam curar.







            Finalmente chegamos no Caminito
“oficial” e, mais tranqüilos, aproveitamos uma parrillada no “El Samovar de
Rasputin”, um nome bem estranho para o lugar. Tomei um vinho branco geladinho
para combater o calor (o céu novamente abriu neste domingo), seguido de um
litro de Stella Artois. Sim, 1 litro! 



            A parrillada estava ok. Nada
espetacular mesmo. Sou mais churrasco gaúcho mesmo. A morcilla, que eu lembrava
da minha infância como uma guloseima da chácara, tinha gosto de sabão ali.
Carne macia, mas sem muito gosto.





Depois da refeição andamos pelo Caminito,
apreciando as fachadas e as diversas apresentações de tango nas ruas e nos restaurantes.
Fotos e mais fotos. Foi bacana.

Para não nos judiarmos mais, tomamos um táxi
até o bairro chamado Recoleta, outro “must see” da cidade. E realmente foi uma
ótima parada. Uma feira sem fim ao ar livre, com música e apresentações para
todos os gostos, além de algumas ruas com pubs simpáticos faziam do bairro um
lugar muito agradável para a tarde de domingo. Lá fica o cemitério onde várias
figuras ilustres estão enterradas, inclusive a Evita. A Carozza tirou umas 20
fotos do mausoléu da figura. Eu fiquei só zoando com os mesmos, já que o negócio
era um poço de turistas mesmo.

Andamos pelas tendas até a faculdade de
Direito, uma construção descomunal do outro lado da Avenida Del Libertador. Não
resistimos e tiramos fotos à la Rocky no final das escadarias.

Dos arredores do prédio enorme, tomamos um táxi
de volta ao centro, para minhas compras de última hora para a família e amigos
(whisky Jameson por menos de 30 reais! E chá Twinnings por 14 pesos!). O
cansaço tomava conta, e tivemos que fazer várias paradas. Mas não chegamos ao
quase quebra-pau do Caminito. Aprendemos a reconhecer a dor um do outro talvez.

Sentamos em um restaurante na 9 de Julho para a
última refeição. Pizza e omelete. Conseguimos bater o cansaço por mais alguns
momentos. Mas, ainda exaustos, tomamos outro táxi de volta para o hostel para
pegar as malas.

A idéia era tomar uma van para o aeroporto, mas
os empregados “ultra-prestativos” do hostel não quiseram ajudar, e a companhia
que conseguimos encontrar sozinhos só tinha uma linha para lá muito tarde.
Tomamos um táxi que, com seu motor falhando, foi se afastando lentamente de
Buenos Aires e se aproximando do aeroporto.

Depois de indignações com o check-in e mais
comprinhas de última hora, entramos no terminal de embarque e lá esperamos por
mais uma hora e pouco. Aproveitei pra deixar o diário em dia, enquanto a
Carozza dormia graciosamente nos bancos dos portões de embarque.

Embarcamos e, exaustos, nem vimos o avião
decolar. Só acordei atrasado para o sanduíche da Gol, que tive que pedir pro
“aeromoço” servir depois de já ter passado. Além de cansado, estava faminto. A
Carozza continuou dormindo.

No Paraguai o tempo passou rápido, com eu e ela
dividindo 4 bancos para dormir pelas quase 2 horas que tivemos que esperar.
Embarcamos novamente, capotamos e só acordei com o cutucão da Carozza, avisando
que outro sanduíche estava para ser servido. 



Nos últimos momentos (talvez sobrevoando
Prudentópolis segundo minha precisa análise aeronáutica), olhamos para o pálido
nascer do sol brasileiro, e pousamos em Curitiba momentos depois, lá pelas 7 e
meia da manhã. Eu desembarquei, Carozza ficou no avião para chegar em São
Paulo. Nos despedimos.





Alternei entre consciência e inconsciência nos
3 ônibus que tomei do aeroporto até em casa, tendo que pagar 10 centavos a
menos na segunda passagem. Achava que tinha o dinheiro certo mas, ledo engano:
a última moeda de 10 centavos era de peso argentino.

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Tuesday, February 21

A faster bang tour

(composto rapidinho na manhã seguinte. Erros de concordância notados na lida rápida)

A faster
bang tour – Bate-e-volta para o Rio




 Superando a
apatia que parece ter imobilizado a maioria dos meus amigos/colegas/conhecidos,
decidi ir sozinho para o Rio, para um dos shows do século, os Rolling Stones,
de graça, na praia de Copacabana. Reservei um carro na sexta, mas meu irmão
caridosamente me ofereceu o Ka dele (que viria a se tornar meu companheiro de
viagem). Cancelei a reserva, agradeci, abasteci e parti, no fim da tarde de
sexta, com Korn a todo volume no sistema de som bem regulado, e uma chuva
torrencial na saída de Curitiba, como se minha força de vontade estivesse sendo
testada. Não duvidei por um segundo que chegaria, e que seria realmente
especial. Mas que choveu forte pra caramba, e assustou, isso choveu.





 A única
parada antes de São Paulo foi no clássico restaurante de Registro, onde cruzei
com alguns ônibus de linha e excursões. Pode soar prepotente, mas no melhor
estilo Mr. T, fiquei com minha coxinha e copo de chá (feito em Curitiba),
observando e “pitying the fools”. Já travados e cheirando à cerveja e vinho
barato (para não mencionar outra substância não legalizada) antes de chegarem.
Estiquei, estiquei, e continuei. Ao som de Oasis.





 Pequeno
momento de tensão depois de São José dos Campos, com o tanque na reserva e sem
um posto a vista. Finalmente, em Caçapava, encontrei um Petrobrás, esquecido na
madrugada. O sono começava a se assentar, mas esta abastecida, e um pouco de
Flaming Lips no som, me deu um toque de energia. Uma parada breve em algum
lugar além de Caçapava, também típica parada de ônibus, onde novamente
exercitei um pouco da minha “pity”. O cheiro das drogas agora se misturava ao
olhar cansado dos passageiros.





 Entre as 3
e 4 da manhã, o sono estava chegando a níveis perigosos, mas prometi a mim
mesmo que iria dormir na Serra das Araras, naquele ex-restaurante que parece
uma ruína maia. Bach interpretado pelo Yo-Yo Ma não ajudou muito a dispersar o
sono, e algumas vezes tive que me concentrar para não seguir reto em curvas, ou
ignorar caminhões na minha frente.





 Dormi, com
vista para as montanhas, exatamente onde previ. Dormi o sono dos justos, por
maravilhosas... 3 horas. Logo após as 7 acordei, vi o sol já alto no horizonte,
numa paisagem maravilhosa. Estiquei, estiquei, e terminei a descida, levemente
acordado por uma rádio de música “easy”, já do Rio.





 ---





 Cheguei no
Rio perto das 8 e meia, e o movimento era grande já. O aterro do Flamengo foi
interditado para as excursões estacionarem, e o retorno que fiz para achar
outro caminho para Copacabana acabou virando uma tour do Centro do Rio.
Encontrei uma placa indicando o Corcovado, e era como se uma força tomasse
conta de mim, um meme imbatível, e eu e o Ka encaramos vielas e subidas no
melhor estilo da Tasmânia, até chegar ao topo do cartão postal.





 Valeu cada
minuto. Mesmo com uma névoa na distância, o visual é muito bom. Fotos e mais
fotos, línguas e mais línguas faladas ao meu redor, como se uma pequena colônia
mundial tivesse se formado nas alturas.





 Tomei um
café da manhã leve (e caro) por lá mesmo, e determinei do alto, e por alto,
alguns objetivos de visita para a tarde. Desci tranqüilamente, me perdi mais um
pouco pelo centro (Candelária, Porto, Central do Brasil, Lapa), tirei algumas
fotos apressadas, fiquei preso no tráfego, passei calor mas... a energia só aumentava.





 Estacionei
no shopping Rio Sul, logo antes do túnel para Copacabana. Preço salgadíssimo,
mas vale a tranqüilidade. Aproveitei e comprei uma bermuda mais leve, deixei
documentos e supérfluos no carro e parti, depois de um risoto caprichado na praça
de alimentação.





 O calor
estava insuportável. A areia de Copacabana queimava ao simples toque, e pessoas
e mais pessoas, vindas de todo canto do país, se agarravam às sombras das
fachadas dos prédios.





 Era cedo
demais para ficar ali, só fervendo no calor, e decidi ir para Ipanema, procurar
o Jardim de Allah que tinha visto na distância, e cujo nome muito me
impressionou. Não foi difícil chegar à lagoa, e resolvi até circundá-la, mesmo
naquele calor. Não tive sucesso na primeira tentativa. Parei, tomei uma água de
côco na sombra, tirei a camisa (!!!) e continuei, sem camisa, exibindo aquele
branco-Curitiba para quem quisesse ver.





 Foi uma
caminhada alegre até o Jardim Botânico. Assim que fui me retirando da beira
d´água, comecei a reparar em pessoas cada vez mais vestidas, ou seja, com
camiseta. Eu, como turista, me dei o direito a andar sem ainda, só para ser
corrigido na Etiqueta Carioca de Andar Sem Camiseta pelo guarda do Jardim, que
pediu que eu vestisse a camiseta ao entrar.





 O cansaço
da caminhada (e da viagem até então) foi se assentando, e o plano era mesmo
relaxar no Jardim Botânico. Mas o relaxamento virou sono, e acabei adormecendo
em um banco, só para ser acordado pela palavra “diafragma” repetida várias
vezes. Uma aula de fotografia estava sendo dada ali, ao meu redor. Só que o
tema das fotos que a professora queria não era “o vadio no banco”, mas uma
série de arcos perto da fonte. Discretamente levantei e fui para outro banco,
onde dormi por mais meia hora, até ser despertado por uma sensação de frio (o
segundo bando era de pedra).





 Passeei com
interesse pelo jardim, mas a hora me chamava, e ainda não tinha encontrado o
dito Jardim de Allah. Lá fui eu então, navegando à pé por vielas e ruas deste
bairro, quando me vi na Gávea, e nada de achar o bendito jardim.





 Mais
andanças, uma topada com o dedão no meio-fio (qual é o problema comigo e com os
meios-fios no Rio?) e encontro o lugar, que na verdade decepcionou, sendo
apenas o escoamento da lagoa Rodrigo de Freitas, com umas quadras ao lado, e muitas
pessoas suspeitas ao redor. Me congratulei pela idéia de ter passado bastante
tempo no Jardim Botânico mesmo.





 Segui pelo
Leblon, Ipanema, e na distância ouvi um reggae. Na praia. Uma banda se instalou
por ali, e estava tocando alguns clássicos. Não resisti, e brancão, sem
camiseta, de boina e chinelos fui pra praia, curtir um pouco. Caminhei no ritmo
rastafari  por ali, e voltei pra calçada,
onde dei de cara com um bloco carnavalesco de rua. Eu, curitibano de carteirinha,
e o carnaval... conseguimos nos dar
bem, e me alegrou muito andar no sentido contrário da galera, parando vez por
outro para olhar e levantar um dedo ou dois para o ar.





 Contra
todas as chances, esbarrei, ou melhor, fui esbarrado por umas amigas de São
José dos Campos, no meio da multidão em Ipanema. Decidi seguir sozinho de volta
para Copacabana. Eu estava me divertindo demais sem me importar com convenções
sociais e negociações de rumos em grupo. Me desculpei e continuei, me perdendo
em direção à Copacabana, tentando achar um Bob’s para jantar. Não encontrei, e
voltei para o KFC. No caminho cruzei com o dono do Roxinho aqui de Curitiba. O
Rio de Janeiro é um ovo!?





 Meu celular
oficialmente desligou para sempre na última bocada do sanduíche tropical do
Coronel Sanders, e decidi encarar a multidão. Eu sabia que tinha uma multidão,
mas não estava preparado para isso. Cheguei ao som de Afroreggae, e me senti
numa espécie de Holocausto tropical. Muita gente, apertada, esperando um
destino infalível: os Rolling Stones apareceria ali daqui algumas horas.





 ---





 Graças à
Allah, ao qual um parque não muito legal foi dedicado, o AfroReggae parou assim
que eu me assentei, logo atrás da segunda torre de som, a uns 150, 200 metros
do palco. Mal podia ver o palco, mas o telão, mesmo desligado, já prometia todo
o auxílio visual de que eu iria precisar.





 Titãs
abriram oficialmente o show e, para delírio da galera, onde sempre tem um que
grita “Toca Raul”, deram uma canjinha do grande roqueiro. Uma rodada de
clássicos para despertar qualquer coração do molho dos anos 80, com eu
“pulandinho” ao ritmo de “Sonífera Ilha” e me emocionando com “Marvin”.





 Dali em
diante não tinha como sentar na areia, e a espera prosseguiu por quase uma
hora. A energia era tão grande que tinha gente (como eu), dançando até ao ritmo
do tema de “Missão: Impossível”, do trailer que passava repetidamente nos
telõezinhos. Deixe-me notar aqui que, devido a uma recente doença ao qual estou
tratando, não ingeri uma gota de qualquer tipo de droga. Era energia mesmo. A
única droga que chegou perto de mim foram as cervejas que um ou outro fã
excitado rodeava no ar durante algumas músicas.





 Uma dessas
foi a alucinante “Jumpin’ Jack Flash”, que abriu o show. A energia virou pura
eletricidade, e mesmo com o telão fora de sincronia com o áudio, a galera foi
acompanhando, hit depois de hit, ano depois de ano, cada minuto do show.





 Na galera,
um olhar de descrença corria de pessoa para pessoa, entre uma música e outra.
Aquilo realmente estava acontecendo: mais de um milhão de pessoas, Copabacana,
e Rolling Stones.





 Keith
Richards arriscou por duas músicas sua voz à la Bob Dylan. Além de torná-lo
imortal, os cigarros deixaram a voz dele uma beleza só! “Empty without you” foi
quase tão emocionante quanto “Wild Horses” na voz do Jagger.





 O show foi passando,
e perto do fim, quando “Sympathy for the Devil” tocou, e na minha frente uma
garota com um traje funk começou a dançar este clássico com versões lentas dos
movimentos funkeiros... eu simplesmente perdi os sentidos e só fui voltar a mim
mesmo depois de “Satisfaction” (trocadilho não intencional).
Nada de
“Like a Rolling Stone”, mas o refrão “You
can’t always get what you want / But if you try sometimes you just might find /
You just might find / You get what you need
” me consolou além da conta.





 Finalmente,
depois de um pouco de hidratação (garrafa de água mineral a 2 reais, melhor que
no Rock in Rio, onde o copo custava
este preço), fui seguindo a Diáspora pelas ruas de Copabacana. Descansei antes
do túnel, paguei o estacionamento, e simplesmente segui o fluxo, agora de
carros, para longe. A galera das excursões ia andando para o aterro do
Flamengo, enquanto o Pão de Açúcar contava na escuridão a grana que ele tinha
ganhado aquele dia com os turistas.





 Sem
problemas encontrei o caminho para Santa Cruz, que envolvia passar por uma via
muito similar às ruas expressas do Iraque que vemos na TV. Com o abandono
fazendo o mato crescer pelos lados, um movimento assustadoramente pequeno,
patrulhas freqüentes ao longo.





---





 Perto das 3
da manhã passei pela entrada da Casa da Moeda, e a adrenalina pura do show
estava começando a se exaurir... hora de parar. Lavei a areia das pernas e pés,
estacionei em uma loja de beira de estrada fechada, e dormi, por quase 4 horas.





 O plano do
dia era seguir pela Rio-Santos e voltar para a capital. Santa Cruz estava em
destaque, por ter a Casa da Moeda. Voltei pelo caminho que fiz na madrugada, e
parei na frente do lugar. Só isso. Porque tirar fotos era proibido, e eu não
costumo violar a lei antes do café da manhã.





 Segui viagem...
sem café até uma pequena praia no meio do caminho até Angra dos Reis, onde tive
que colocar um pouco de gasolina pra chegar até lá. Comprei um Todinho e um chá
(feito na Pavuna), e isso serviu de café.





 Cheguei em
Angra com sonhos radioativos, pouco me interessando pela cidade, a não ser que
a Angélica aparecesse de biquíni por ali fotografando pra Caras ou algo do
tipo. Mas andei ao redor da cidade acordando do que parece ter sido um festão
na noite anterior, e gostei do clima da cidadezinha, mesmo com a visão horrível
de uma plataforma de petróleo (acho) logo na frente da cidade. Segui até o
Colégio Naval, onde eu quase fui estudar, e sem querer invadi um píer de acesso
exclusivo. Um “grumete” veio até mim e pediu que eu me retirasse, na boa. Voltei
conversando com o guri, indagando sobre a vida de marinheiro. Uma foto da
fachada do prédio bonito e segui viagem, depois de um pouco de informação e um
monte de gasolina, que me levaria para casa e, mais importante agora, para as
usinas nucleares!





 No caminho
o meu carrinho quebrou. Um pedaço de plástico que protege o motor quebrou, e
fui arrastando ele até o estacionamento do centro de visitantes da
Eletronuclear. Tirei uma foto ou outra do que o Irã não pode ter, e fui para o
centro. Lá, uma recepcionista (não usando um hijab) muito prestativa e um segurança viam a manhã de domingo
passar. Só pra mim o painel que ilustrava a geração de energia foi ligado. Li
as partes que não conhecia, fiz umas perguntas sobre Angra III e enriquecimento
de urânio, e logo fui embora, improvisando um conserto para o carro usando o
cadarço do tênis.





 Segui até
Paraty, uma das grandes atrações do dia. Caminhei pelas ruas de pedra, fotos
dos prédios particulares bem conservados, nenhuma foto do forte mal conservado,
com os canhões jogados de qualquer jeito, em poças d´água... se o sr. Gilberto
Gil investisse mais em um curador para o lugar e não em vigias (tinham 3, só
para o morrinho do forte), com certeza valeria uma foto. Fiquei chateado.





 Contornei o morrinho até
a praia, onde engolfei uma porção gigante de camarão, com vista para o mar,
servido por um garçom chamado “Pirata”. A porção foi tão satisfatória, junto
com o suco de laranja, que resolvi nem almoçar. Andei pela cidade mais um pouco
e segui viagem.





 A
Rio-Santos neste trecho não deve em nada para a Great Ocean Road mesmo... o
visual das ilhas passando, das baías silenciosas é sensacional. Parei em um
mirante muito bem localizado para uma água de côco (terceira do final de
semana) e um pouco de admiração. A névoa ao longe ofuscava a Ilha Grande, o
senhor me disse, mas pra mim estava bom assim, obrigado.





 O cansaço
estava tomando conta de mim neste começo de tarde, e assim que cruzei a
fronteira com São Paulo parei em uma praia, a praia do Félix, para um banho
despertador. Nada de ondas por ser uma baía, mas nadar com várias ilhas e
muitas montanhas e verde ao redor foi realmente revitalizante.





 Continuei
seguindo, agora debaixo de chuvas nas montanhas... um bom desafio nesta
maratona de direção. Me perdi bonito em Caraguatatuba, lanchei (lembre que até
agora só tinha comido camarão) em São Sebastião e continuei seguindo. A viagem
não rendia, pela imensa quantidade de curvas, montanhas e lombadas. O movimento
de carros também não ajudava muito. Cheguei em Cubatão no final da tarde.



 Novamente
me perdi, agora em São Vicente debaixo de uma chuva torrencial. Para completar
o espetáculo, outro bloco carnavalesco bloqueou a rua numa vizinha muito
suspeita que tive que cruzar para evitar um pedágio em direção da Praia Grande.
Consegui evitar o pedágio, e a viagem prosseguiu.





 Assim que o
movimento foi diminuindo, o sono foi tomando conta. Não tinha música que me
mantivesse acordado, e fui parar para abastecer só em Peruíbe, perto das 10 da
noite. A estrada dali até a BR-116 era muito sinistra, e fui seguindo.





 Logo
consegui chegar em Registro, para outra parada clássica e muita comida. Também
dormir por meia hora, porque não conseguia dirigir a mais de 80 km/h.





 A “power
nap” funcionou, e logo depois das 11 segui, refrescado, para o final da viagem.
A dor no braço e pé (parcialmente causados pela doença que mencionei acima)
estava ficando insuportável, e tomei um Tylenol com água gelada de um posto
onde parei para me esticar.





 Sem muitos
problemas cheguei à capital, e passei direto pelo Contorno até a minha casa,
ouvindo uma seleção muito estranha de rádios.
Finalmente, “Original of
the Species”, do U2, toca quando estou quase na porta de casa, me fazendo
relembrar que “You can’t always get what
you want / But if you try sometimes you just might find / You just might find /
You get what you need
”.

Wednesday, December 14

Vida em Campinas - prelúdio, primeiros momentos















Ah, eu aqui com meus títulos prepotentes
antecedendo uma coleção de observações bem-humoradas sobre os lugares por onde
a vida me leva. Vamos lá.

Intro

    Não estava dando
certo. Realmente não estava dando certo eu ficar em Curitiba, andando de um
compromisso artificial para outro. Minha rotina não estágio estava muito boa.
Ótima mesmo. Eu celebrava as 4 horas matinais que passava lá apanhando de Java
e trocando idéias com meus colegas como uma das únicas coisas que fazia a vida
valer à pena. Mas então vinha a tarde, e a seqüência esburacada de aulas com
professores desmotivados ou “desmotivantes” fazia da noite algo quase
insuportável, por mais podcasts interessantes e outras aquisições audiovisuais
(leituras intensas do acervo da Biblioteca Pública nestes 4 ou 5 meses) que eu
tentasse usar na formação de um humor melhorado para embalar o sono.



Então, do nada
veio esta oferta de trabalho, que tramitou por algumas semanas entre processos
seletivos e entrevistas e períodos de silêncio e finalmente se tornou realidade
imediata, com início imediato. 28 de Novembro.

As festas de despedida
(o plural deste título também me
surpreendeu)




            No
final das contas esta data até que foi boa, porque coincidiu com o “Claro q é
rock” (sic) , em São Paulo, e uma carona estava esquematizada com uns comparsas
curitibanos. Tudo muito em cima da hora, mas nada que o Almir e um pouco de
criatividade minha não possam resolver! Quinta-feira tinha pré-estréia do novo
filme do Harry Potter, e como eu tinha aula de árabe, resolvi fazer um
“esquenta” no Baba Salim. Cheguei no árabe e a professora estava transtornada
com uma perda na família e falou que poderia até dar um pouco de aula, mas
tinha que ir embora. Olha que determinação!



            Os
alunos falaram que não, e fomos embora. Eu mais rápido ainda. Contei a novidade
para a professora, paguei o mês de aula adiantado e saí. Ela veio ao meu
encontro na saída da Sociedade e me abraçou mesmo eu com a roupa molhada de
chuva, e deu um beijo, mesmo eu estando com o capacete na moto. Me desejou tudo
de bom e eu saí pelo portão, já sem rumo.







            Porque,
afinal, marquei com o povo só lá pelas 9 no Baba. Resolvi fazer algo parecido
com o que fiz antes de embarcar para a Austrália: tomar uma Guinness. Solo.





            Me
dirigi até o Peggy Sue, que agora tem o Sheridan’s ao lado. Entrei no
Sheridan’s, atraindo olhares por entrar molhado e com um capacete na mão (ou
talvez só porque eu sou gatinho mesmo). Pedi uma Guinness. Intimei um camarada
a participar deste último ritual, mas recebi um “não”. No worries. Continuei
bebendo a cerveja e lendo “Uma casa para o Sr. Biswas”, o qual já não tinha
mais esperança de terminar antes de viajar.
 



            De
lá para o Baba Salim, onde entornei 3 araks e fumei um narguilé, enquanto
conversava com o punhado de amigos que apareceram, entre eles o ilustríssimo
sr. Alexandre Lourenço, que iria me acompanhar mais tarde na pré-estréia,
marcada para meia-noite e um.



           
“feliz” da vida, a idéia brilhante de comprar uma bebida para acompanhar o
filme foi levada à sério, e lá vou eu, de camiseta, debaixo de garoa, de moto,
ao Mercadorama comprar... de todas as coisas, ó Senhor... vinho. E nem muito
barato. Uns 9 pilas a garrafa, e mais um saca-rolhas. Os copos eu teria que
improvisar.





            Pra
encurtar a história (que já vi que vai ficar mais longa que o previsto),
foram-se duas garrafas de vinho em copos de plástico “emprestados” da
bombonière do cinema do Estação, tomados a goles largos toda vez que o
Voldemort era mencionado, ou qualquer coisa marginalmente excepcional acontecia
no filme (como a Fleur Delacour aparecendo). O ápice da premiere foi quando
Lord Voldemort ressurge, e eu levanto para o resto do cinema (estávamos nas
primeiras filas) e brindo: “Cheers to Voldemort!!!”. Dizem que as pessoas
estavam nos chamando a atenção desde o começo do filme, mas não lembro de nada
disso.
 





            De
lá para o apartamento do Almir, onde entornamos uma quantidade ignorante de
whisky, enquanto conversávamos do que viesse na cabeça entre um gole e outro.
Foi uma das poucas vezes em que eu perdi a capacidade de pronunciar palavras
enquanto bêbado (normalmente fico eloqüente). Cheguei em casa sabe Deus como, e
perdi meu último dia no estágio. 



            No
dia seguinte devolvi meus livros na Pública, disse “tchau” para ela e para a
pastelaria na frente dela e voltei para casa terminar de arrumar as
mochilas.  No começo da noite me
desloquei para o Alice Bar, onde a festa de despedida número 2 estava marcada.
Cheguei muito cedo, e mesmo assim peguei uma mesa totalmente fora de mão, mas
que logo foi brindada com a presença de duas garotas extremamente bonitas. (as
quais eu nem cheguei perto a noite inteira, mas este não é o caso). Foi
chegando mais gente, o Topete e o Cabelo e o Júnior e a Patrícia Camila. Eu
estava mal do dia anterior, e querendo mais é dormir. Então resisti bravamente
até lá pelas 3 e peguei carona com meu irmão. O Almir me liga logo depois,
avisando que tinha chegado.  Estava
exausto, e tive que dizer “não” ao pedido de volta para a gandaia. Fica para a
próxima, seja ela quando for.





Uma caminhada em São Paulo

Depois desta
segunda e mais comportada despedida, e depois de uma noite de apenas 4 horas de
sono, acordo a todo vapor, fecho as malas, acordo meu irmão, me despeço dos
pais e vou para o ponto de partida da carona para o “Claro q é rock”. 1 minuto
depois das 8, horário marcado para a partida, o Ramiro me manda uma mensagem
denotando impaciência. Cheguei lá antes dele.





Uma rápida
abastecida e o “racha” do combustível pago e estamos na estrada! Cansado como
eu estava eu tentava acompanhar algumas das linhas de diálogo, mas estava
difícil, ainda mais depois de uma certa “névoa” circulando pelo carro. Com
paradas pouco ortodoxas (ou seja, não no Petropen de Registro), chegamos à São
Paulo perto da 1 da tarde. Direto para o hotel em que os caras iriam ficar, e
um rápido (e caro) almoço na Rua Augusta.



Um desencontro
se provou encontro quando encontramos o Charles, em “schoolboy-mode”, descendo
a Paulista e xingando os companheiros, por não esperarem no local marcado.
Agora estava todo mundo “junto reunido”, mas o Ramiro e o John foram com uns
amigos direto pro show, enquanto eu, Charles e Marcão decidimos dar uma volta
pela cidade.



Com a expertise
de praxe, Charles nos guiou por alguns pontos do centro, como o teatro
municipal, o bairro da Liberdade, a praça da Sé. No bairro da Liberdade nosso
caro guia se perdeu, mas nada que uma rápida informação de um prestativo
proprietário de lanchonete não pudesse corrigir. Pegamos o metrô em direção à
Vila Madalena, para daí pegar uma “ponte” de ônibus e andar “umas 10 quadras no
máximo” até o show.



Acabou sendo que
estas 10 quadras se transformaram em pelo menos 20, mas bem perto de 35. No
meio uma parada para o café para reenergizar, e lá pelas 8 da noite estávamos
na fila para entrar no festival.

O Festival 

            Tudo
“perdoado”, e aquela excitação pré-show tomando conta de qualquer outro
pensamento, inclusive sobre a minha decisão de me mudar para uma cidade
estranha onde não conheço ninguém, entramos na chácara do Jockey, exatamente
quando os últimos acordes de Good Charlotte estavam ecoando, e pisamos no campo
entre os dois palcos exatamente quando a Nação Zumbi começou a tocar. Nada
muito interessante aí, e fomos para a “chill-out tent” reorganizar os
pensamentos (e descansar da caminhada).



            O
Marcão logo foi perseguir outra névoa com uns companheiros, e ficamos eu e o
Charles para decidir o que fazer.



            O
primeiro show que realmente assistimos foi do Fantomas, e mesmo assim só pela
metade, porque pareceu experimental demais para o meu gosto despreparado. A
grande atração estava sendo preparada no outro palco: The Flaming Lips.



            Mesmo
antes do show, o vocalista estava correndo de lá pra cá, entre fãs vestidos de
bichinhos de pelúcia, acertando os últimos detalhes. Sem muito atraso, o show
começou, com uma “bola intergaláctica” andando pela galera, e “Race for the
Prize” tocando. Depois disso seguiu-se um dos shows mais divertidos da minha
vida, com uma tremenda interação entre vocalista e platéia, com direito à coros
e pedidos de “pensamento positivo” ao cantar o refrão de “Yoshimi Battles the
Pink Robots”. É suficiente dizer que assisti o show inteiro com um enorme sorriso
no meu rosto.



            A
seguir foi a vez da bicha mais louca do rock n’roll, o Iggy Pop, acompanhado
dos Stooges. Foi, em uma palavra, “rock n’roll”. Gritos de desordem, invasão de
palco, sujeira mesmo. Gostei. Vimos de muito longe o show, mas deu pra “curtir”.



            Outra
grande atração veio logo depois, com Sonic Youth desafiando a platéia com
diversas músicas desconhecidas, mas com alguns “hinos” teen que não tem como
não se arrepiar ao ouvir. Também visto meio de longe. Depois da caminhada,
perdi o ímpeto de ir empurrando até a frente, que já me garantiu lugares
privilegiados em festivais pelo menos 2 vezes maiores que este.



            Pra
fechar, um show de produção do Nine Inch Nails, que assistimos dos ridículos
telões redondos do lounge. Não tocaram “Perfect Drug”, então o show não valeu à
pena. Ok, estou mentindo. Teve seus momentos, mas o cansaço estava crescendo, e
a falta de qualquer quantidade de álcool no meu sistema fez eu desistir
rapidamente sem nenhum outro estímulo, que eu esperava das bandas e do ambiente,
mas acabou não acontecendo.



Um último "até mais"



            Acabamos
encontrando o Marcão vagando pela chácara, mas nada do Ramiro. Na saída ainda
encontramos outro curitibano, e com ele encaramos a pequena grande jornada em
busca de um táxi até o Centro. Saímos pelo lado errado, circundamos o lugar
inteiro e encontramos táxis à vontade no outro.



            Um
taxista “mucho loco” nos levou até o hotel do Marcão, onde eu e o Charles
tínhamos que pegar as malas. Mas antes um X-Salada barato na primeira
barraquinha que encontramos na Paulista. Parece que escrevo com tranqüilidade o
nome deste mítico logradouro paulista, mas não. Eu estava bobo entre cada
mordida, olhando para cima e pensando: “isso é novo”.



            Pegamos
a mochilas, e a estação do metrô já estava aberta. Era logo depois das 5 da
manhã. A viagem de 2 metrôs foi quase que inteiramente silenciosa, o que
atribuo ao cansaço, mas também à realização, na minha cabeça e na do Charles,
prestes à fazer uma grande mudança também, que estava acontecendo mesmo. Em
algumas horas eu estaria sozinho num lugar estranho, e em poucos meses ele
também.



            No
impulso, nem esperei um ônibus para Campinas perto do ônibus para Araraquara
dele. Me arrependi depois, mas na hora não. Eu só queria acabar com isso de uma
vez. Encarar de vez o fato desta grande mudança. Sem olhar para trás, embarquei
no ônibus, tentei escrever algumas linhas antes do ônibus partir, mas assim que
ele se moveu, em menos de 1 quilômetro eu já estava dormindo. Para o Charles
restava ainda uma hora de espera para sua viagem, consideravelmente mais longa.









Campinas

            Acordei
em algum lugar no meio do caminho, com uma corrente de ar frio correndo o
ônibus. Fiquei encabulado de fechar a janela, e tentei ao máximo ficar acordado
pelos últimos 40km da viagem. O espaço entre São Paulo e Campinas é
praticamente uma cidade só, ou melhor, uma fábrica só. Fiquei e continuo
impressionado com tanta prosperidade, tanta produção. Para onde vai tudo isso?
E para onde eu estava indo, que era a pergunta mais difícil?



            Esperava
ver a HAL - nome mascarado do lugar onde estou trabalhando. Para descobrir o
nome real, mude cada letra para sua letra seguinte no alfabeto. – antes de
chegar. E realmente passei por ela, mas não vi. A primeira coisa que vi foi uma
cidade... grande. Cartazes à la São Paulo nos tapumes de construções e, para
meu espanto, uma falta gritante de poluição. O sol brilhava cintilante, e ao
invés de chaminés, ao longe eu só conseguia discernir caixas d’água.



            Mochila
sobre mochila, fui procurar o ônibus que me levaria à Barão Geraldo, que eu
insistia em pronunciar como “São Geraldo” ou até “Barão São Geraldo”. Sem
problemas, encontrei uma pequena pracinha perto da rua 11 de Agosto (é bom eu
ir me acostumando com estes nomes) que tinha exatamente o que eu precisava. Uma
passagem excessivamente cara paga, e eu estava a caminho.



            O
bairro é retirado da cidade, é praticamente um distrito. Bem, é um
distrito. No caminho pude mais uma vez apreciar a paisagem, o céu aberto, a
terra vermelha... eu estava realmente gostando deste lugar. Reparei também, e
repetidas vezes depois disso, uma curiosa plantação de mandioca no caminho para
Barão Geraldo, e lembrei o desespero que era arrancar mandioca no sítio quando
eu era pequeno. A raiz nunca vinha inteira. Uma das batalhas contra a natureza
que mais me marcou foi isso, lutar contra a natureza de uma raiz, que quer
ficar plantada, enquanto eu queria/tinha que arrancá-la.



            Chegando
no bairro, circulei um pouco, apreciei a calma do lugar, me informei em um
posto de gasolina e encontrei o endereço. Estava umas 2 horas adiantado, e
resolvi andar mais um pouco, mesmo sujo, cansado e carregando 2 mochilas e mais
uma sacola. Sentei no meio fio na borda do bairro, de frente para uma plantação
de hortaliças, e escrevi uma página ou duas de fluxo de consciência. Fiquei
mais uma vez admirando o lugar, e pouco mais de meia hora passou. Resolvi bater
na casa mesmo assim.









 Res publica

            Fui
atendido pelo Leonardo, o atual responsável da república. O Hérique (sic), que
me facilitou a entrada no lugar estava viajando, e só fui o encontrar na
quarta-feira. Mesmo assim, fui recebido, apresentado à casa (não é o lugar de 7
quartos que eu imaginava). Gostei do lugar. Realmente sem muita frescura. É uma
coisa pública, com alguns toques de privacidade.



            Antes
de me instalar, tive que ir ao supermercado, onde comprei alguns mantimentos
básicos para o dia e para a higiene. Sentei no banquinho de uma das praças do
bairro, tomei meu café da manhã, escutei os passarinhos cantarem. Liguei pra
casa para dizer que estava vivo e bem, impressionando a todos por lá, que
achavam que provavelmente eu iria me perder em São Paulo e nunca mais aparecer.
Ledo engano. Naveguei por alguns desertos e algumas das maiores cidades do
Mundo (noooossa!), e este desafio eu vou tirar de letra, com categoria, com estilo.



            Cheguei
novamente à república, tomei um merecido banho e literalmente desmaiei no
colchão na sala, depois de trocar algumas palavras com outro morador que
apareceu. Passei o resto do domingo, das 10 da manhã até o começo da noite,
alternando entre sonos. Valeu à pena. No final da noite estava novo em folha.
Tinha me ajustado ao “fuso horário” de Campinas.









 Encontros e Desencontros

           
Acordei extremamente cedo na segunda-feira, tomei um bom banho,
vesti o terno emprestado do meu irmão. Saí da casa, com chave emprestada,
mochila nas costas e um terno. Sensação ótima, eu posso dizer.



            Tinha
marcado de pegar uma carona com um cara que iria começar no mesmo dia/lugar que
eu, então só tinha que me preocupar em pegar o mesmo ônibus que me trouxe do
Centro e pronto.



            Ledo
engano, caro Douglas. O encontro era para ser na “Justiça Federal”, ou no
“Palácio da Justiça Federal” ou, simplesmente, no “Palácio da Justiça”?
Circulei pelo centro no ônibus, e no primeiro prédio um pouco maior que eu vi
com a palavra “Justiça” estampada na frente eu parei, xingando mentalmente o
inocente cobrador por não cobrir a minha ignorância.



            Cheguei
exatamente no horário marcado, e me sentia bem. Mas 10 minutos se passaram. E
nada. Liguei para o cara. (Edrei Marcelo é seu nome para facilitar de agora em
diante) Ele ainda estava para sair. “Bem”, eu pensei, “então estou certo”. Mais
10 minutos passaram e nada. Outra ligação. Esclarecemos os erros: ele pensava
em “Justiça Federal”, eu em “Palácio da Justiça”. E agora? Nenhum dos dois
sabia navegar pela cidade. Eu corri para a rua conhecida da referência dele, a
Dr. Quirino, e me informei com uns peões sobre o mal entendido, sem muito
sucesso. Corri de volta para o Palácio da Justiça (eu, de terno, correndo em
direção ao Palácio da Justiça. Não pensem que eu não imaginei mais de uma vez
abrir o paletó e camisa para revelar um grande “S” estampado no peito). Liguei
novamente, e o Edrei falou que estava indo para o Palácio, ele tinha achado no
mapa. Mais um desencontro depois e finalmente nos encontramos quase 1 hora
depois do combinado. Mais uma ou outra esquina virada para a direção errada e
encontramos o caminho certo, para a HAL!







H.A.L.



            Encaramos
uma fila na portaria, e mesmo assim não pude me alegrar de estar na fila mais
longa, pois a mais curta era somente para a entrevista na HAL. Eu já estava
dentro!



            Nos
perdemos do nosso guia, que não apareceu, e andamos à esmo por um tempo entre
os barracões monumentais da Tech Town. O que pode precisar de tanto espaço para
ser construído? A HAL já vendeu a sua divisão de manufatura mais “pesada”
(computadores pessoais).



            Finalmente
encontramos a consultoria que nos contratou, em um barracão nos fundos da
TechTown. O barracão se dividia em labirintos de placas pré-fabricadas, que por
sua vez em cada sala se subdividia em cubículos ou corredores de cubículos.
Fiquei impressionado.



Acabei ficando
com a primeira máquina que o suporte deixou disponível, e consegui minha
identificação para a Intranet e para o Notes rapidamente. Logo o Edrei foi
chamado para uma reunião inicial com a project manager dele. A equipe
dele tem sua parte brasileira. Já no meu, eu sou a parte brasileira do projeto.
O resto está todo espalhado pelo Mundo, e principalmente pelos Estados Unidos.



Nada muito
excitante para reportar até que fui convidado para conhecer o prédio principal,
o MM10. Aí sim realmente me bateu o sentimento que tinha começado assim que
entramos na recepção da HAL Eu estava na... HAL!



Os cubículos que
eram subdivisões no MM32 (o barracão onde passarei a primeira semana) eram as
divisões do barracão principal, e só o que se via eram eles, com um pé direito
remanescente muito alto. Uma fábrica realmente... mas nada palpável era
produzido! Só conhecimento passava de um lado para o outro e, principalmente,
de um país para o outro. Bandeirinhas de diferentes países identificavam as
áreas que cada conjunto de cubículos atendia, fazendo sabe Deus o quê. Vi
diversas siglas passando entre cada “rua” de cubículos, e termos na língua
inglesa que me causava arrepios, tamanha a ojeriza que me causam: “billing”,
“support”, “management”.



Almoçamos no
restaurante de porte industrial temporário da HAL, localizado numa antiga baia
de carga e descarga. Me senti um piloto de caça, um soldado. Troquei algumas
idéias já polêmicas com alguns managers, envolvendo uma possível “vingança” da
HAL contra a Microsoft, devido à sua adoção do Linux. Nada como provocar o
“middle management” para fazer digestão.



 Fim de dia





            Finalmente
chegamos ao fim do dia, com eu instalado, com Internet sem limitações, mas
ainda sem telefone, o que irá provar ser um problema muito grave mais adiante.
Durante a tarde já fui contactado pela minha manager, a Annie, do estado de NY,
impressionada com eu já instalado, e que continuaria impressionada com meus insights
e “fome” de saber o que eu iria fazer. “Tudo a seu tempo”, todos diziam,
mas eu sou ansioso demais para isso. Dizem que só em 2 semanas todos os
processos da HAL ficam claros e, mais importante, acessíveis à um novo
contratado, mas eu queria tudo na hora! Já me acalmei um pouco mais agora. Mas
só um pouco.



            Comprei
uma Fanta e saí para o calor do fim da tarde. Tive que registrar o momento:
terno, mochila nas costas, golão de Fanta.



            Peguei uma van (mais sobre elas no próximo capítulo), e depois outro
ônibus, diferente do que peguei antes, e fui brindado com um pôr-do-sol
maravilhoso, à la Canberra, no caminho para casa. Além disso, o maior brinde
foi o tour pela Unicamp, pois este ônibus passava e repassava por dentro
do campus. Não posso descrever o quanto fiquei emocionado ao passar pelos
prédios desta universidade. Coisa de fã mesmo. Ainda não desci para passear à
pé, mas pelo que pude ver até agora, tem de tudo neste lugar. Tudo mesmo. De um
hospital até um laboratório de eletrônica quântica, desde um refeitório
industrial até todos os bancos que você possa imaginar. Uma cidade universitária
mesmo.



            Para
fechar com chave de ouro o dia, parei no supermercado, comprei diversos
legumes, queijo, suco e frutas e fui caminhando para casa, com os sapatos me
matando e o terno sufocando, mas comendo uma nectarina como se fosse a última
da terra. Preparei uma salada alucinante em casa, tomei suco, chá e dormi o
sono dos justos.



Cenas dos próximos capítulos:
- Vans à indiana
- O físico católico
- Office life rules
- O show de cozinha de Doug
- O Maior Shopping Center da América Latina
- Marombaria
- Doug Tiozão


Wednesday, June 22

Without frills, I'm back

(very confused, but at least it's something)



A personal
thought and a reminder from a friend that went abroad keep haunting me: enjoy the difference while
you can. But after a week since I returned, I haven’t even scribbled in the
journal or write anything else than a confused description of a bus ride. I
haven’t gone out with friends every night of the week. I haven’t spent time
enough with my family.




I even
briefly fell under old habits, like playing Civilization III without any
motivation, killing hours and hours of the day. Hours that’ll never come back.








What saved
me from the vicious cycle was the publishing some photos from the last leg of
my trip, and the exchange of e-mails with people in Australia. I feel like I’m
trapped between two worlds, as pretentious as this may sound. 




I can’t get
myself to write properly, or even to work properly, even with offers pouring
in. Work is another of the vicious cycles that I want to get away from, but
it’s one that’s harder to justify and maintain if I actually do get away. So,
one of these weeks I’ll be back to my crazy schedule of freelance work, now
coupled with the still undecided AIESEC work that I plan to do.






My return
shouldn’t be like my work in Australia, desperately trying to kill time with
huge amounts of Web exposition. It shouldn’t be either a return to my schedule
of going out every single night of the week. Today I even said “no” to one of
my dearest friends. It broke my heart. I have to make up to her soon, because I
don’t know what I would do without her company.






It’s all
about prioritizing, isn’t it? Maybe it’s not. My priority now seems to be
collecting new music, having time to browse for it and listen at home. My
computer here is way more powerful and with way more capacity than the one in
Australia. But at the same time it runs Windows and not my cute MacOS. I’m such
a nerd deep down.






Tomorrow
or, better, today, I’ll go out. I don’t care. The whole day lost in my city. My
small forays into it so far have been timid, due to the weather, but mostly due
to my complete feeling of being lost in a known World. I still can’t believe
I’m back. I see the supermarket near my house and it seems so much smaller than
it was. The street signs are smaller, the grounds seems dirtier.






But I rise
my head and the sky is splendid, with shades of blue and silver around the
edges of the clouds, something I missed a lot during my time away.






Now it’s
raining for about two days. The skies are gray and cold. But, and now hold
yourselves for the cheapest metaphor ever, behind these clouds I’m sure there’ll
be sun and the sun will produce the silvery clouds I love so much.





Sunday, May 22

Unfinished

Photos here/Fotos aqui:


 


http://www.kodakgallery.com/I.jsp?c=16zg0tdq.1v8i5616&x=0&y=gzxg41




Texto aqui (Portuguese only guys, and incomplete, sorry):


 


Kiwi Bebop: os primeiros dias de Nova Zelândia


 


- Cheerio Austrália, Kia Ora Aotearoa


 


            Finalmente meu estágio chegou ao fim. Nos últimos meses o clima na casa, no trabalho, em todo o lugar que eu ia parecia prever o fim. O acidente da Therese, o Joris virando cada vez mais um yuppie adulto... cada um para o seu canto. E o meu canto acabou sendo como sempre dentro de mim mesmo, pensando e pensando no que fazer em seguida. Recebi uma oferta de emprego na Austrália que está ainda muito complicada, com a entrevista demorando 2 semanas para ser marcada e a resposta ainda no ar. Além disso tem outra oportunidade em aberto em Canberra mesmo.


            Mas é isso mesmo que eu quero? Não consegui decidir ainda, e meu visto estava para expirar. Decidi cruzar o pedacinho de Oceano Pacífico que separa a Austrália da Nova Zelândia e pensar. O que ajudou também foi o fato do meu visto na Austrália estar expirando, e eu não querendo ser mandado para um campo de concentração no deserto decidi cair fora!


            Não sei por que razão, mas brasileiros não precisam de visto para entrar na Nova Zelândia por até três meses. Vai entender este povo. Estudando as políticas de imigração deles, vi que eles tem até esquema de "working holiday" com a Argentina (mas não com o Brasil). Vai entender...


            Peguei um trem de Canberra para Sydney na manhã de sábado, depois de dormir uns 20 minutos depois da última despedida no Phoenix pub, cercado de um punhado de bons amigos, com direito a beber cerveja do cinzeiro (tradição ridícula que só aconteceu uma vez antes, de tão ridícula que é) e tudo mais. Voltei para casa sozinho e comendo um kebab. Impressionantemente fui encontrar a melhor combinação de molhos do Ali Baba bem neste último dia: tahini e coentro.


            Tentei não dormir, mas não consegui. Cochilei no sofá vendo vídeos musicais e acordei 20 minutos depois do celular despertar. Chamei o táxi e cheguei na estação, e logo que o trem encostou fui pra lá e tentei dormir mais, mas não consegui. O último amanhecer na Austrália, com os campos rolando pelos trilhos estava espetacular. Era uma manhã de outono, me lembrando as primeiras manhãs que tive por aqui. A quantidade de cangurus nos campos era impressionante, era como se eles tivessem vindo todos para dizer adeus para mim. Fiquei tocado com esta demonstração de sentimentalismo marsupial.


            Chegando em Sydney, o tempo nublado me recepcionou. Sydney sabe que eu gosto de cidades nubladas. Caminhei com minhas duas mochilas por Chinatown, que eu negligenciei na minha última visita.


            Almocei cedo numa praça de alimentação, queimando a minha boca com uma receita de wok maluca de Chinatown e decidi que não tinha mais o que fazer por ali, ainda mais arrastando minhas pesadíssimas mochilas. Fui pro Aeroporto.


            Estes momentos entre sair da praça de alimentação e o check-in eu vou lembrar para sempre. Todo mundo na rua parecia ser brasileiro. Não sei por quê. Eu estava sentindo o que eu chamei de "descompressão cultural". Ao chegar no terminal internacional, as escadas rolantes pelas quais eu desci nos meus primeiros momentos na Austrália ainda estavam lá como eu as tinha deixado. Momento muito forte.


            Eu estava umas 6 horas adiantado para o meu vôo, e fiquei perambulando de um lado para o outro no terminal. Comprei "O Idiota" do Dostoyevsky de impulso e comecei a ler batalhando através de um frappuccino do Starbucks (outro sinal de que o Mundo está para acabar é a invenção deste Frankencafé).


            Quando fui fazer o check-in (provavelmente fui o primeiro), a mulher falou que eu precisava de uma passagem de volta para a Austrália para entrar na Nova Zelândia. Eu pensei que só provando que eu tinha a grana para ficar por lá e sair era suficiente. Mas resolvi isso e embarquei. (estou enrolando demais nesta partida, e não vou conseguir descrever tudo em um texto que era para ser sobre meu tempo na Nova Zelândia, não meu não-tempo na Austrália).


 


            No vôo mais um toque de sentimentalismo quando vi Canberra “plotada” no mapa da rota de vôo. Um aperto no coração me corroía ao ver aquele pontinho no mapa mais do que ver Sydney brilhando lá embaixo, cada vez mais distante. Mas o sono finalmente me alcançou e logo depois do mini-jantar eu capotei, para acordar somente minutos antes de pousar.


           


            A primeira impressão ao chegar na Nova Zelândia: “que azul mais bonito”. Pensei isso vendo o neon que escrevia “Auckland” repetidamente em cima dos terminais do aeroporto.


            O aeroporto estava em reformas, mas não foi difícil ir para a Imigração. Passei infalivelmente no teste, e ganhei um visto de 3 meses, mesmo que minha “passagem de volta” valesse para nada, porque eu não posso voltar legalmente para a Austrália depois do dia 10 de Maio. Mas o gênio da Imigração pareceu não notar isso, e ficou satisfeito vendo que eu podia prorrogar a passagem de volta e que eu tinha grana suficiente pra me sustentar 3 meses.


            Peguei as mochilas e passei pela Alfândega sem problemas, mesmo carregando comigo uma quantidade de medicamentos que alguns ambulatórios no Brasil apenas sonham em ter. Culpa da minha mãe, que vivia me entupindo de remédios. Mas isso vai provar ser vantajoso mais adiante na minha narrativa.


            Depois de passadas as barreiras burocráticas, com um carimbinho novo no passaporte, cheguei no hall do aeroporto. Era logo depois da 10 da noite, e estava bem calmo. Um terminal modesto, pouca gente, mas o ar de novidade estava no ar e para mim aquele hall de chegada parecia a coisa mais legal do Mundo naquele momento.


            Primeiro ao virar as costas para a saída foi ver que muitas das pessoas que estavam lá não estavam muito interessadas em quem estava chegando, mas no telão logo acima do corredor, que estava mostrando uma partida de rugby. Oh yeah, estou na Nova Zelândia com certeza.


            Peguei uma grana (até o dinheiro aqui é mais cool, levinho, com cores sutis) e uma van do aeroporto para a cidade, para o primeiro hostel que encontrei no guia da cidade. Na viagem até o centro eu parecia uma criança de 5 anos, correndo de janela para janela olhando tudo, mesmo na escuridão das ruas que estávamos percorrendo. Milhares de pensamentos de como descrever este momento, todas as piadinhas, tudo que pensei naquela hora não podem descrever o estado de excitação que eu estava. Imagina quando eu for para a China então.


Não agüentei e depois do check-in e de um merecido banho (ainda estava meio cheirando à fumaça do Phoenix) saí pelas ruas. U-au. Auckland em um sábado à noite. Que coisa mais linda! Que povo mais lindo. Sorrindo, caminhando em paz. Muito diferente do povo bêbado e gritando na Austrália. Uma mistura maravilhosa de povos. Não quero menosprezar a Austrália, foi a minha casa e ainda sinto que pode ser, mas a Nova Zelândia realmente acertou no quesito coexistência entre povos. Os Maoris aqui têm voz, ao invés de serem marginalizados. E não só têm voz, mas são motivo de orgulho. Mas mais disso mais adiante. Enfim, isto é só o começo.


 


- Um domingo pacífico


 


            No dia seguinte, com o guia gratuito da cidade estudado, resolvi mudar de hostel para um bem mais barato, mas chegar lá foi outro papo. Era no topo de um peral (conhecem esta palavra?) do caramba, e eu teimoso como sempre não parei até encontrar o lugar, carregando uns 30 kg de mochilas.


            Depois disso resolvi caminhar pela cidade, porque estava faminto! Mas era domingo, e poucos lugares estavam abertos, e eu já estava na minha mentalidade de comer o mais barato possível. Acabei numa barraquinha japonesa comendo galinha teriyaki. Andei sem rumo pela cidade o resto do dia, sem rumo, só absorvendo o lugar. Impossível dizer que não adorei o lugar, deu pra perceber já. Nada mais na minha cabeça a não ser o total prazer de absorver o novo.


 


- Auckland Domain


 


            Reservei a segunda-feira para ir no Museu. Quem me conhece sabe que eu sou fã destes lugares, e este prometeu me mostrar o que a Nova Zelândia significa e daonde veio e para onde vai. O lugar me ganhou no “significa”.


            Passei o dia inteiro lá. Mesmo. Desde que abriu até quando fechou, e ainda tive que me apressar na parte do memorial de guerra (último andar), onde tinha até a bandeira do Brasil. Não tem como citar aqui tudo que fui aprendendo, mas basta dizer que eu agora conheço a História da Nova Zelândia melhor do que muito guri neo-zelandês (convencido? Eu? ‘magina!)


            Uma coisa que eu posso dizer é que o museu fica no Auckland Domain, um parque enorme no meio da cidade, cheio de lugares legais pra sentar e ler/escrever. Mas como o esperto aqui estava de shorts, havaiana e camiseta e estava soprando um vento frio de rachar, foi melhor eu ficar dentro do Museu mesmo. Mas fui teimoso (de novo) e parei debaixo de uma árvore antes do museu abrir. Uma visão maravilhosa de Auckland ali de cima, e depois de ler alguns sinais no Auckland Domain eu já estava me sentindo conectado com a terra mesmo antes de conhecer toda a sua História.


 


- Cinema e frango


 


            Como era de se esperar, depois da overdose de informação do dia anterior, eu estava ansioso para sair de Auckland e explorar o resto do país. Mas não ainda. Eu estava ainda em um período de descompressão, e resolvi dar um tempo na cidade ainda, mas ao mesmo tempo procurando mais informação sobre o resto do país e como eu podia ir ao redor dele da forma mais barata possível.


            Nestes dias me acostumei com o lugar, vi o que estava passando nos teatros e cinemas (festival de comédia e festival de filmes sobre direitos humanos, respectivamente), descobri as comic shops (tem uma chamada “Heroes for Sale”, quer coisa mais Tarantino-cool do que isso?) e os cafés legais, andei por mais parques. Eu vou dar um velhinho de 80 anos muito bom um dia desses. Só falta minha bengala.


            Fui no cinema estes dias, claro. Tem um “shopping” (não dá pra chamar disso, mas tudo bem) com IMAX e uma mega-tela e mais 12 cinemas normais. Algumas pessoas (eu incluso) chamam isso de “Paraíso”. Além disso, na frente do lugar tem duas franchises das minhas redes de frango português favoritas: Oporto e Nando’s. Como eu disse, “Paraíso”.


            E melhor ainda: o Nando’s estava (deve ainda estar, não chequei) com uma promoção muito legal, com um combo + um ingresso para o cinema por 20 dólares (o ingresso para o cinema normalmente custa 15 dólares). Comi lá um dia, e ainda alucinado pelo molho de pimenta cruzei a rua (não sei como) e mostrei o ticket para a guria. Ela falou: “Sweet!”, porque não é todo dia que tem alguém que tem um “cheque em branco” pra ir na sessão que quiser. Mas ela me corrigiu e falou que naquele dia (terça-feira) era o dia mais barato possível, e que eu devia usar o “voucher” (quando eu voltar vou me esconder do Cristiano por um mês depois dessa) num dia que era mais caro. Ó, quanta consideração. Eu a adorei no momento, mas agora eu tenho mais senso e não vou me apaixonando por garotas assim. Da última vez que isso aconteceu minha vida se transformou em algo que daria um nó na cabeça dos roteiristas de Dawson’s Creek, e ao Kafka daria um ataque cardíaco.


            Ah, os filmes que assisti: “Kingdom of Heaven” no domingo e “The Interpreter” na terça. O primeiro é uma versão politicamente correta das Cruzadas, o segundo é um show de atuação exagerada do Sean Penn e a Nicole Kidman com um corte de cabelo que foi um terror para a continuidade. Adorei os dois, porque eu sou assim, gosto de todo mundo.


            Antes disso mais algo inesquecível: fui na tal Sky Tower. É, maior torre do Hemisfério Sul, blábláblá... isso fica pequeno em comparação com o que veio depois, então não me julguem esnobe se eu não achar muito disso.


 


- Te rei waka


 


            Na quarta-feira pela manhã fui pego no hostel e levado ao lugar onde no dia anterior reservei um carro. O mais barato que eu achei, de um paquistanês chamado Mohammed Ali. Gente fina o cara, mesmo pegando meus detalhes do cartão de crédito e colocando no bolso dele. Mas é um negócio de família, e eu confio. Se na minha fatura vier uma cobrança para “OsCalcanharesMaisInsinuantesdoOcidente.com” vocês podem ter certeza que não fui eu.


            O carro era um Corolla já baleado o coitado, com o pára-choque traseiro meio fora do lugar. Mas era mais do que eu precisava para os próximos 5 dias. Meu objetivo era fazer do pequenino a minha casa ambulante, e foi assim mesmo.


            Saí sem rumo de Auckland, só pedindo para o Mohammed onde era o Norte. Ele apontou um pouco pra cima da direção de Mecca e lá fui eu! Através da Harbour Bridge e feliz como uma lontra em água fria. Tão feliz com a paisagem linda se transformando de cidade portuária para montanhas que até saí fora da pista umas vezes. Mas qualé, eu atravessei a Austrália de moto sozinho, dirigir um carro é coisa de criança pra mim. (sim, agora vocês podem me chamar de esnobe)


            Mais adiante, quando meu domínio da língua e tradições Maori estava mais estabelecido (alguém atire em mim, agora antes que o esnobismo tome controle!) eu nomeei meu carro “Te rei waka”, que traduz mais ou menos como “O Carro Dente de Baleia”. Porque ele é branco meio desgastado, como o marfim dos dentes de baleia (“rei”). “waka” literalmente significa “canoa”, mas o dia que você ver um carro Maori você me liga. O importante na palavra é o uso do instrumento, e o único jeito de viajar usando algo que eles podiam construir era de canoa. Pronto, expliquei.


           


            Parei em Snell’s Beach para avaliar meus próximos passos. Eu já estava a uns 100km de Auckland e finalmente parei de cantarolar e pular no assento do carro.


            Um lugar fantástico esta praia. Numa baía calma com uma visão das maiores ilhas perto de Auckland, que um ex-pescador que parou pra conversar comigo me explicou os nomes. Que gente boa neste país. De apertar o coração. Ele parou, pediu de onde eu era, falou da vida dele, eu falei da minha, e ele continuou a andança solitária dele.


            E eu continuei a minha, alternando entre montanhas de deixar as estradas da Tasmânia parecerem retonas e vales verdejantes e baías com diversas ilhas pontuadas no horizonte. Um dia fabuloso para dirigir, mesmo que nublado em algumas partes.


            No final do dia acabei em Paihia, no coração da “Bay of Islands”, onde a concentração de ilhas é ainda maior. Um pôr-do-sol de tirar o fôlego. Mas o meu interesse neste lugar não era Paihia, era...


 


- Waitangi


 


            “Biodiversidade” começa com “b” por causa de “Brasil”, então eu não estava nem aí para as balelas de eco-turismo de Paihia, pagando os olhos da cara para ver golfinhos se divertindo muito mais do que eu. Por 10 pilas eu entrei na reserva de Waitangi, e lá eu me encontrei com a História viva da Nova Zelândia.


            Como dormi no carro, acordei cedo, todo dolorido. Dirigi até a cidade de volta (estacionei fora da cidade para dormir), tomei um café e fui para Waitangi, do outro lado da ponte. Cheguei cedo para isso também, e fui um dos primeiros por lá, com liberdade para ir onde eu quisesse, quanto eu quisesse (até parece que eu estava em um parque de diversões).


            O primeiro “uau” veio no filminho na entrada, bem emocionante, comprimindo a história dos conflitos entre Maoris e Pakehas (europeus) em 10 minutos com uma trilha sonora “new age”. Que truque barato, mas funcionou comigo.


            De lá direto para a waka taua (canoa de guerra) construída para celebrar os 100 anos do tratado de Waitangi.


            Bem, muito disso está descrito nas fotos, então vou pular os lugares e vou direto ao ponto, que é o que eu senti ao visitar o lugar.


            Primeiro de tudo, a sinceridade dos europeus em descreverem aquele lugar no meio do século XIX como o “inferno do Pacífico”, totalmente sem lei, com marinheiros bêbados abusando dos Maoris e Maoris lutando entre eles (como sempre fizeram, mas agora com mosquetões). E ao estabelecer que o lugar era um inferno, eles mandaram “homens de Deus” determinados a fazerem o bem. E, por Deus, eles fizeram bem mesmo. Talvez eu tenha lido uma parte da História só, e eu reconheço que abusos podem ser identificados até no tratado de Watangi, mas comparando com a história de indígenas em outros países, a dedicação destes homens de Deus é realmente algo para se admirar.


            Passei a manhã inteira e o começo da tarde por ali, lendo tudo que podia e escutando a guia quando ela passava perto de mim. Ela realmente se sente conectada à este lugar. Ela é Maori de uma descendência que pode ser traçada até o nome da canoa que trouxe os antepassados dela de Hawaiki, a terra mítica de origem dos Maoris (provavelmente algumas ilhas perto de Fiji). Nada de exagero aqui ou “armadilha para turista”, eu juro. É um sentimento legítimo de identifcação com o local e as histórias.


            Almocei levemente no café da reserva, escrevi uns postais escutando os passarinhos e o cortador de grama, e resolvi correr, porque ainda tinha muito chão até o extremo norte da Nova Zelândia, que eu queria visitar no pôr-do-sol. E no caminho eu ainda tinha uma parada, que acabou sendo duas.


 


- Moewera e o banheiro-arte de Kawakawa


 


            Me perdi umas 3 vezes ao redor de Waitangi/Paihia para encontrar a estrada para Moewera, uma espécie de “cidade modelo” que eu li sobre. E valeu à pena. Claro que não é uma utopia, mas eu estou satisfeito, sendo o Mundo como ele é ultimamente a gente tem que dar graças à Deus que existem pedacinhos de terra onde ainda existe esperança. E esta esperança aqui na Nova Zelândia é Moewera. Cheguei lá no final do dia, e vi muitas e muitas casa pré-fabricadas, que se fossem em assentamentos indígenas brasileiros e australianos estariam destruídas, mas em Moewera estavam muito bem conservadas. Passeei pelas ruas e a cena mais tocante foi as crianças saindo da escola. Brancas e Maoris, juntas, brincando, repartindo o que sobrou do lanche. Uns descalços, outros com mochilas maiores que eles mesmos... uma cena angelical mesmo, por mais cafona que isso soe.


Antes de sair da cidade ainda vi outra cena de cooperação, dois brancos e uma família Maori trabalhando na construção de um telhado. Estas duas cenas parecem saídas de um infomercial, mas que bom que elas existem fora de fitas anunciando condomínios. Que bom mesmo.


A segunda parada, a não antecipada, foi em Kawakawa. Eu vi de relance “Os banheiros públicos mundialmente famosos” (não em português, é claro) e eu TIVE que parar, dado meu fascínio pela ciência de banheiros públicos, desde o chuveiro quente por 1 dólar de Lorne. É uma arte fascinante o banheiro público: sociologia, engenharia, contabilidade e... arte pura. Isso mesmo. Este banheiro foi desenhado por um tal de Hundertwasser, que eu nunca ouvi falar antes, mas parece ser um artista/designer famoso. Não olhei a história do cara fora da Nova Zelândia, mas admirei seu trabalho em Kawakawa. Ele realmente revitalizou uma cidade rural em uma atração turística light. Várias fotos depois e eu finalmente estava na estrada direto para Cape Reinga, já tremendamente atrasado.


 


- Doug, piloto da WRC no pôr-do-sol


 


            No caminho ainda tive que parar para algumas oportunidades de fotos, que no final das contas só serviram para eu ver a paisagem, pois as fotos não fizeram jus ao que eu vi. Nem de perto. De tirar o fôlego as formação na costa no extremo norte. Dramáticas.


            Ainda mais dramática foi minha chegada ao Cabo Reinga. Os últimos 20 quilômetros eram estrada de chão, cercada de precipícios. Eu coloquei a Concert FM no máximo volume, já cheia de chiados porque a recepção estava ruim neste pedaço do país (vi um posto de gasolina dizendo: “último posto de gasolina antes da Austrália”) e, ao som da Cavalgada das Valquírias e outros “hits” eu fui fazendo uma média de 80km/h entre as curvas e penhascos, parando de vez em quando para tirar uma foto ou outra que acabou em nada. Fazer isso com um Corolla baleado, mesmo que imbuído com um nome de poder, não foi moleza.


            Cheguei no cabo minutos antes do último raio de sol cruzar o céu. E eu comemorei esta vitória com estilo. Dancei, cantei, fiz o escambau na frente do último ponto entre eu e o Japão (claro que tem umas ilhazinhas no caminho, mas quem se importa?). Passei uma meia hora festejando sozinho, sem uma alma viva ao meu redor por pelo menos 20km. Eu e o Pacífico e a lua crescente, inspirando visões.


            Virei as costas depois de um tempo, e saltitando percorri o caminho entre o farol e o carro. Agora só faltava voltar, e cruzar a ilha inteira até o (quase-)extremo sul, para a capital Wellington.


 


- Sobre rádios na Nova Zelândia


            Nesta volta eu dirigi sem parar a noite inteira, passando por uma floresta mágica e uma serra com uma estrada que parecia que foi projetada pelo Salvador Dalí (curvas e desníveis), e fui acompanhado por uma trilha sonora de acordo com o sentimento de estranheza.


            Ao invés de descrever a estrada que eu não vi, vou falar sobre as rádios na Nova Zelândia, porque foi um dos meus principais canais para conhecer o país.


            Fui sortudo o suficiente para estar aqui durante o “NZ Music Month”, então todas as rádios estão tocando muita música neo-zelandesa. Se fosse só música local atual tudo bem, eles tem uns hip-hopeiros extraordinários, mas o problema é que eles meio que se “orgulham” dos anos 80. Foi a “juventude” do país. Então o que escutei foi uma orgia de “new wave” que poucos suportariam sem perder a sanidade.


            Já mencionei o hip hop daqui? Pois é, o hip hop de protesto daqui, quase sempre cantado por descendentes de Maoris ou mestiços das ilhas, é poderoso. É um tipo de hip hop que vem com uma ameaça atrás dele. É um hip hop que pode sair da caixa de som e chutar o seu traseiro.


            Rádios Maoris. Sim, várias delas, e as músicas são lindíssimas e muito variadas. De R&B até reggae, de punk até hip hop. Tenho que admitir que ouvir a versão em Maori de “No Woman No Cry” dirigindo no extremo norte foi um dos momentos mais felizes da minha vida.


            Mas ao mesmo tempo ouvir um “twist” em Maori enquanto dirigindo na rodovia “Dalí” foi uma das coisas mais perturbadoras que eu já vivi.


            Depois de muitas rádios diferentes, amanheci há 30km de Hamilton, percorrendo mais da metade do meu caminho até Wellington.


 


- No meio da Nova Zelândia, procurando a Terra Média


            Dormi cerca de 3 horas nas últimas 24 horas, mas não estava nem um pouco cansado e queria continuar, ainda mais inspirado pela paisagem alucinante dos morros gentis e verdejantes ao meu redor, e uma promessa que li em Hamilton: logo ao sul várias cenas de “O Senhor dos Anéis” foram filmadas. O sentimento de orgulho nerd bateu forte, e depois de me abastecer de mantimentos no mercado, segui viagem!


            Todo este verde é tudo pasto, e a quantidade de vacas ao redor das estradas subliminalmente me fizeram querer tomar leite. Sério mesmo. Parei num posto e comprei um Todinho!


            Chegando a um certo ponto, era inconfundível a paisagem. Eu estava no Condado!


 


- Hobbiton


 


            Claro que antes de mais nada tentei achar Hobbiton por conta própria, e quebrei a cara repetidamente em estradinhas simpáticas que me levavam à nada. Mas a paisagem era tão pacífica que não tinha como ficar irritado com todas as meias-voltas que eu tive que dar.


            Hobbiton foi montada numa cidade chamada Matamata. Mas da minha experiência caçando o set de “Superman” na Austrália, eu sei que estes tubarões de Hollywood são bons em esconder estas coisas. Depois de um tempo desisti e paguei para um povo me levar até o lugar.


            Aqui em Matamata é um dos únicos lugares onde tours podem ser organizadas com o consentimento da New Line Cinema, e é o único set que não foi completamente destruído. Mas um pouco eu desejava que tivesse sido. O que eu vi na tour organizada (com direito à ônibus e guias e tudo) foi inferior por causa das construções restantes. Eu preferiria muito mais se eles deixassem o lugar aberto para o público, e ainda mais, aberto à imaginação, como os livros são.


            O destaque foi a “Party Tree”, onde o Bilbo e o Frodo comemoraram seus aniversários. Se eu não estivesse cercado de pessoas eu com certeza iria realizar ali minha famosa dança élfica.


            No fim das contas valeu a pena. Foram 2 horas e meia cheias de anedotas interessantes sobre o lugar, e uma caminhada agradável pelo campo.


 


- Surpresas na Terra Média


 


            2 horas e meia?! Já era quase metade da tarde. Eu tinha que me mover! Agora mesmo! E fui! Para o sul!


            O problema (e a maior vantagem) de viajar como um navegante português (qualé Fernanda, em um momento na História eles eram bem espertos) é que volta e meia você acaba sendo surpreendido pela paisagem. E na Nova Zelândia isso acontece muito freqüentemente.


            Mas não nesta intensidade. Eu não estava preparado para isso, não mesmo. Os vales verdejantes começaram a se transformar em um mar de verde salpicado de rochas. Eu estava na planície dos Rohirim!


            E se isso não bastasse, depois de uma serra moderada tive a visão do Lago Taupo no entardecer. Quase caí de joelhos no acostamento vendo esta maravilha, cercada de paredões e tão grande que até tem ilhas nele.


            E (mais um “e”) se isso não bastasse, tomando uma estrada inesperada eu dei de cara com nenhum outro do que senão o MONTE DOOM!


 


- MONTE DOOM!


 


            Sim, lado a lado com uma montanha nevada (e ainda é só Maio!) lá estava ele, escuro no pôr-do-sol, ameaçador mesmo à distância. Parei para uma foto, e eu sabia de uma coisa. A viagem parou aqui por um tempo.


 


- Descansando antes do desafio


            Não consegui acomodação perto da montanha, mas fui até onde a estrada me levava para ver o fim do pôr-do-sol do ponto mais alto possível naquela hora. Do nível do mar no dia anterior até uns 1000m acima no dia seguinte. Nada mal.


            Fui até a cidade de National Park (sim, este é o nome da cidade) tentar achar alguma acomodação, porque eu precisava de um bom descanso para o que eu decidi fazer no dia seguinte. Achei um albergue bacana, tomei um banho e fui comer algo. Tinha rugby aquela noite, e a pizzaria onde eu estava começou a encher e eu estava animado para assistir, mas meu corpo finalmente sentiu o peso de quase 48 horas sem dormir e tive que ir de volta para o quarto. Depois da taça de vinho que tomei, e com aquele friozinho, não deu 1 minuto entre eu deitar na cama e capotar.


            (ah, antes eu vi um pedacinho de “O Medalhão”, filmão de kung fu americano com o Jackie Chan e a Claire Forlani que, sinceramente, se aceitou este papel foi só pra sustentar o vício dela em alguma substância ilícita)


 


- O montanhista desinformado


            No dia seguinte acordei e eram quase 10 da manhã. Nada bom. Nada bom mesmo. Mas, com diriam o Kevin Spacey, se todo mundo está indo tudo para o Inferno, porque a gente não vai dando risada? Fiz um chá e o tomei relaxadamente vendo National Geographic.


            Parei na estação do parque nacional para me informar onde começar a minha trilha. Existiam múltiplas trilhas no parque (Tongagiro National Park), e muitas delas conectando com partes dos filmes. Ithilen (onde a Galadriel mora), a terra dos Orcs e, é claro, MONTE DOOM. O único problema é que a trilha mais bacana dura de 7 a 8 horas, e já não dava mais tempo de eu ir. Mas resolvi fazer o melhor que podia. Ia até a metade do caminho e voltaria. Fácil. Isso.


            “Quem esta mulher é, dizendo que não dá tempo de fazer mais nada?”. Fui a quase 120 por hora até o ponto de partida da trilha e ia provar do que um Spadotto é feito!


            Logo no início tinha uma senhora fazendo uma pesquisa sobre o quanto as pessoas sabem sobre os perigos de vulcões ativos. Respondi o questionário e fui.


            Outra nota extraordinária: minha mochila. Realmente algo que só um montanhista do Sahara poderia imaginar:


            - camiseta havaiana


            - creme dental (Sorriso), escova de dentes, sabonete, desodorante, toalha de rosto


            - toalha de banho (fãs de Douglas Adams vão reconhecer que esta foi uma boa idéia)


            - bandeira do Brasil


            - 1.25l de suco de laranja e manga


            - 3 barras de cereais, “European style” (meu pão lembas pessoal)


            - 25 dólares americanos (porque todo mundo sabe quem é o Sauron atualmente)


            - documentos do aluguel da casa na Austrália e contas de luz e telefone


            - 2 cachecóis


           


- Nota perigosa: indo para o MONTE DOOM!


            Alegremente fui seguindo a trilha bem preparada, sem problemas. A paisagem era alien, com pedras por toda parte e plantas estranhas. Moleza.


            Daí chegou o primeiro paredão, e eu, no gás e sem parar há uma hora já, fui com tudo contra o paredão, e fui escalando até alcançar um casal de chineses logo na primeira plataforma. Eles falaram: “Você é rápido!” e eu, com os pulmões queimando e o coração a ponto de sair pela goela só dei um sorriso pancoso e falei: “Oh yeah.”


            Fui seguindo o paredão, e a cada pouco eles me pediam por onde ir. Me senti o Gollum guiando os dois hobbits. “Here massster! Yes, yesss!”


            Chegando no topo do paredão era uma cratera entre dois vulcões, um inativo, o outro ativo, o MONTE DOOM (nome real: Monte Ngarauhoe). Seria um caminho fácil até as outras crateras e lagos nas montanhas, mas eu olhei para minha direita e sabia que tinha que fazer isso: eu tinha que escalar o MONTE DOOM!


 


- Subindo o MONTE DOOM!


            Já estava caminhando/escalando há 2 horas e ao invés de parar para descansar antes de atacar o vulcão, fui direto, sem nem olhar para os lados. Eu realmente parecia enfeitiçado por algo maior do que eu, do que os livros, do que o filme... era a Natureza me desafiando, pedindo para eu provar... o que quer que ela quisesse que eu provasse.


            O problema de um ataque frontal é que eu não pensei. Escalar tem tanto a ver com a cabeça do que tem a ver com o corpo, como eu fui aprender uns 100 metros no caminho, quando eu estava patinando entre pedrinhas e poeira vulcânica. Era com subir uma montanha de algodão. Todos os caras que estavam descendo só me desejavam boa sorte com um sorriso. Depois de muito sofrimento olhei para o lado e percebi uma parte de rocha mais firme, e fui naquela direção. Isso tomou mais uma meia hora da subida.


            (Vale notar que o esperto aqui foi subir um vulcão de tênis. Agora eu sei que botas Snake não são só uma afirmação de estilo da gurizada.)


            Cheguei nas pedras e vi o último grupo de pessoas descendo. Todo mundo subiu pela manhã, e eram quase 2 da tarde quando eu estava mal e mal na metade. Era eu e o vulcão agora, mas sem a Meg Ryan (quem entender esta referência ganha um boné).


            Subindo, subindo, subindo. Tomando suco de laranja (que já estava começando a não matar a sede mais) e perdendo o fôlego a cada 10 passos (afinal estava há 2000 metros acima do nível do mar), mas continuei. Demorei muito mais nos momentos finais, porque a ventania estava terrível. Fria e muito forte. O ranho escorrendo do meu nariz bateu recordes. (nojento, mas é verdade).


            Outro recorde aconteceu perto das 4 da tarde, quando eu estava a 2287metros, conquistando a montanha mais alta que já subi na minha vida!


 


- No topo do MONTE DOOM!


            A ventania estava de matar, mas vista do topo, a cratera do vulcão e toda a imensidão ao redor, o lago Taupo e os lagos nas crateras inferiores me mantiveram lá por uns 10 minutos, mesmo com as mãos congelando (luvas? Não.)


            Eu estava ALI, contra todos os reveses e todas as tentativas de desistir. Foi uma prova de caráter se eu posso ser tão eloqüente. Me fez sentir com o poder de fazer o que eu quisesse no mundo.


            Agora só faltava descer.


 


- Descendo o MONTE DOOM!


            Eu calculei que em meia hora desceria o bendito, mas demorei mais de uma hora. As pernas estavam a ponto de desabar, e tive que ir tomando cuidado. O sol estava se pondo quando cheguei na base. E ainda tinha pelo menos 1 hora e meia de caminhada e um paredão para descer. Lanterna? Nada disso.


 


- Salvo por Allah


            Perto das 6 e meia o último raio de sol brilhou, e eu estava totalmente no escuro. Tinha algumas plataformas em partes do caminho, mas logo isso acabou e só o que podia me guiar eram uns bastões demarcando o caminho.


            Para provar minha incrível sorte, logo que uma das últimas plataformas acabou e eu saí da sombra de uma montanha, brilhou sobre mim a lua crescente mais cintilante que eu já vi! Era mais do que eu precisava para continuar o caminho até o fim. Não pude evitar e suspirei “Allah Akhbar” várias vezes entre meus lábios rachados de frio. Besteira, mas este foi o nome que quis dar neste momento para esta força maior que me pegou pela mão e me ajudou.


            Perto das 8 eu estava no carro, onde sentei, exausto. Faltavam uns 300km para Wellington. Como não usei meu cérebro para subir a montanha, posso usar ele para dirigir. Esta foi a lógica, e para o sul eu apontei e acelerei mais uma vez!


 


- Dirigindo sem corpo e sem gasolina


- Dirigindo sem gasolina


- Bobódromos em Wellington


- Meu endereço: estacionamento com vista para o mar


- Passeando por Wellington


- Despedida apressada


- Para o norte com arte decô


- Doug vs. the Super Toilet


- Rotorua: a capital dos advogados Maoris


- Iluminação numa “dacha”


- Em busca do Kiwi gigante


- De volta a Auckland


- O que mais?


 


            Tudo isso para contar, mas fica para depois, fica para outra hora. Neste momento estou considerando uma volta para o Brasil. Talvez em uma ou duas semanas estou de volta, depois de uma viagem solo pela ilha sul, onde vou para o mato e para as montanhas puxar meu corpo contra alguns outros limites, e torcer para que minha mente siga. Vamos ver no que da.